[Resenha] As Peças Infernais: Anjo Mecânico, Cassandra Clare

Livro: Anjo Mecânico #1

Série: As Peças Infernais

Autora: Cassandra Clare

Editora: Galera Record

Páginas: 390

Nota: ⭐⭐⭐⭐

Tessa Gray tem um anjinho mecânico pendurado no pescoço, um presente de família do qual nunca se separa. O tique-taque do pingente faz com que ela se sinta segura junto à lembrança dos pais, que já morreram. Mal sabe Tessa que o barulho muito em breve vai se tornar o odioso som de um exército comandado pelas forças do Submundo. Com os Caçadores de Sombras e seu recém-descoberto poder sobrenatural, ela enfrentará uma guerra mortal entre os Nephilim e as máquinas do Magistrado, o novo comandante das trevas da Londres vitoriana.

Voltar a ler As Peças Infernais me traz uma sensação de aconchego. De estar adentrando a minha zona de conforto. Com o Mundo das Sombras sendo ambientado na era vitoriana de Londres, teremos uma nova faceta desse universo. Antes da criação e da existência de Jace, Clary, Simon e todos os outros presentes em Os Instrumentos Mortais... temos uma outra história.

Tessa Gray, ao dezesseis anos, acaba de perder sua tia por uma doença repentina deixando-a sem nenhum dinheiro em Nova York. Tendo como único parente vivo seu irmão, Nathaniel, ela recebe uma carta junto com uma passagem pedindo que more com ele em Londres. Sem nada com que se apegar ou a que a prenda na América, Tessa navegará para ir de encontro ao irmão, que na realidade não está a esperando. Em uma emboscada arquitetada, Tessa entenderá que tudo que conhece não passa de uma mentira. E agora, ela faz parte do Submundo.

Seria fácil para a Cassandra Clare apostar no seu "padrão" para desenvolver mais uma trilogia de As Crônicas dos Caçadores de Sombras. No entanto, épocas diferentes, desenvolvimentos e desdobramentos distintos, fazem com que seja fácil desassociar uma trama da outra. O universo em si já é conhecido para o leitor que acompanha esse mundo — principalmente pelo ponto de vista dos Caçadores de Sombras — e por este motivo, trazer uma perspectiva de um integrante do Submundo foi certeiro. Tessa não sabe quem verdadeiramente é. Ela precisa se redescobrir e descobrir o que é esse mundo.

Com um ambiente voltado para os anos da Revolução Industrial, não foi preciso muita coisa a mais para me conquistar. Embasada no estilo steampunk para pano de fundo, a fantasia urbana ganha elementos e pormenores muito individuais e únicos, que fazem com que o leitor fique intrigado com o andamento. Mistérios e questionamentos são levantados, assim como, a compreensão de que algo está sendo planejado e estruturado. Fica óbvio que Anjo Mecânico é o início de uma coisa maior, e que como pontapé inicial, é extremamente sensacional.

"— Pulvis et umbra sumus. Uma frase de Horácio. Somos pó e sombras. Adequado, não acha? — disse Wil. — Não é uma vida longa, a que se leva matando demônios; tende-se a morrer cedo e então queimam nossos corpos. Do pó ao pó, literalmente. E então desaparecemos nas sombras da história, nem uma marca na página de um livro mundano para lembrar que sequer existimos um dia." pág. 81

Sobre os personagens, a mera semelhança entre Will Herondale com um outro nome conhecido da saga, não passa desapercebido. Tenho a sensação que o Will é uma versão "melhorada" de Jace — protagonista de Os Instrumentos Mortais — que apesar de ter o mesmo comportamento arrogante, o poder sedutor e segredos, dentro desse contexto funcionou melhor. Isso, porque Tessa e James balanceiam o trio de protagonistas. Will é o impulsivo, enquanto que Jem é o mais racional e a Tessa é o equilíbrio entre os dois. O que posso garantir, é que não falta opções de pessoas para se apaixonar.

A pergunta mais importante é: teremos triângulo amoroso? Na minha opinião, não. Consigo enxergar com clareza a escolha da Tessa para um relacionamento amoroso, o que não me faz ver um triângulo. Porém, estaria mentido se dissesse que não ocorre interesse amoroso dos dois lados masculinos, além de situações que fazem surgir dúvidas.

Porém, apesar desse aspecto, ao meu ver a amizade do trio se sobrepõe a construção de um romance. O vínculo do Will com Jem é extremamente forte, o que faz com que a entrada da Tessa traga muito mais um equilíbrio, do que propriamente uma disputa. O romance apesar de ser presente, não é um dos pilares da conjuntura. A mistura da fantasia com suspense é o primordial do exemplar.

Não poderia faltar os desdobramentos e reviravoltas capazes de impactar o leitor — e confesso que revivi todas as emoções sentidas da primeira vez. Existe um plot twist muito genial, que faz com que você se pergunte em como não percebeu aquilo antes. O desfecho é pontual, de forma a encerrar essa trajetória contada, com um gancho para o sucessor.

"— Às vezes — disse Jem —, nossas vidas mudam tão depressa que a mudança é mais rápida do que nossas mentes e corações. É nessas vezes, acho, quando nossas vidas mudaram mais ainda sentimos falta do tempo anterior, que sentimos a pior das dores. Mas posso te dizer, no entanto, por experiência própria, que você se acostuma. Aprende a viver a nova vida e não consegue imaginar, ou sequer se lembrar, de como as coisas eram antes." pág. 254

De uma forma geral, eu recomendo muito a leitura de Anjo Mecânico — até para aqueles que já tentaram ler Cassandra Clare. É uma trilogia ímpar, e que começa muito bem em Anjo Mecânico. Tem prospectivas de crescer — spoiler: irá evoluir! — e de mostrar uma complexidade que os leitores fãs de fantasia curtem. Adorei a experiência de releitura!

Na parte física, as capas metalizadas, a lombada que combina, o box com a runa e etc... não tenho do que reclamar! Realizei a troca das minhas edições antigas para o box, e não me arrependo. A diagramação é a padrão da editora Galera Record, com texto espaçado e confortável de ler. Não encontrei erros de revisão. A narrativa é feita em terceira pessoa pelo ponto de vista da Tessa. Espero que possam dar uma oportunidade e conhecer! Me digam: já leram ou ouviram falar de Anjo Mecânico? O que acha da proposta? Deixa nos comentários!