[Resenha] A Sombria Queda de Elizabeth Frankenstein, Kiersten White

Livro: A Sombria Queda de Elizabeth Frankenstein
Autora: Kiersten White
Editora: Plataforma 21
Páginas: 352
Gênero: Fantasia / Jovem Adulto 
Nota: ⭐⭐⭐⭐⭐+💗

Elizabeth Lavenza não tem uma refeição decente há semanas. Seus braços magros estão cobertos de marcas de seu "cuidador", e ela está prestes a ser jogada nas ruas... até que ela é levada para a casa de Victor Frankenstein, um jovem solitário que tem tudo - exceto um amigo. Victor torna-se para Elizabeth a fuga da miséria. Ela faz tudo para se tornar indispensável - e isso funciona. Ela é aceita pela família Frankenstein e recompensada com uma cama quente, comida deliciosa e vestido da melhor seda. Logo ela e Victor são inseparáveis. Mas sua nova vida tem um preço. À medida que os anos passam, a sobrevivência de Elizabeth depende de controlar o perigoso temperamento de Victor e atender a todos os seus caprichos, não importa quão absurdos estes sejam. Através de seus olhos azuis e doce sorriso reside o coração de uma garota determinada a permanecer viva, a todo custo... assim como o mundo é consumido pela escuridão.

Mais uma vez, Kiersten White soube ousar e demonstrar toda a sua criatividade. A Sombria Queda de Elizabeth Frankenstein é uma releitura do grande clássico de Mary Shelley que me encantou do início ao fim. A homenagem aos 200 anos da obra original foi simplesmente primorosa.

Elizabeth Lavenza tem uma vida miserável. Com um dia a dia extremamente difícil para uma criança — marcado por agressões físicas e escassez constante de comida — ela enxerga uma oportunidade de mudança quando a família Frankenstein a acolhe para fazer companhia ao instável Victor Frankenstein. O problema é que, para garantir essa nova vida, Elizabeth precisa se moldar completamente: tornar-se dócil, submissa e alguém capaz de agradar Victor acima de tudo. E isso funciona. Ano após ano, sua existência passa a girar em torno de acalmá-lo e compreendê-lo. Contudo, essa frágil estabilidade é ameaçada quando Victor deixa a casa para estudar, sem previsão de retorno. Até onde Elizabeth é capaz de ir — e o que está disposta a suportar — para sobreviver?




Releituras, na minha opinião, são sempre arriscadas dentro da literatura. É um formato que pode funcionar muito bem ou fracassar completamente. O equilíbrio entre respeitar o enredo original e apresentar algo inovador é essencial. Felizmente, Kiersten White encontra essa medida com precisão. Com uma escrita voltada ao público jovem adulto, a narrativa prende o leitor do início ao fim. Trata-se de um enredo cadenciado, que demora um pouco para engrenar — devido a uma introdução mais longa e necessária —, mas que ganha força do meio para o final, o que considero um ponto bastante positivo.

No que diz respeito aos personagens, o grande diferencial está na perspectiva feminina. Elizabeth ganha os holofotes e se torna o eixo central de diversos acontecimentos e transformações ao longo da história. Acompanhar sua dependência emocional de uma figura problemática, vê-la se moldar a algo que não desejava em função de outra pessoa e, posteriormente, encarar as consequências disso é extremamente instigante. Como a narrativa é conduzida pelo seu ponto de vista, conseguimos compreender as motivações por trás de suas decisões equivocadas — e até mesmo o modo como ela se torna, de forma indireta, corresponsável por quem Victor se torna. Esse aspecto sustenta um dos elementos mais surpreendentes da trama.

“Apesar de todos os meus esforços para aprender a ser o que os outros precisavam que eu fosse, eu não percebera que já era perfeitamente adequada para aquele hospício. Eu era exatamente quem queriam que eu fosse. Quem a mãe e o pai de Victor tinham me educado para ser. Quem Victor me criara para ser. Eu era uma prisioneira.”

Mesmo conhecendo o desfecho da obra original, Kiersten White imprime sua singularidade ao construir reviravoltas impactantes e descrições que realmente nos deixam de queixo caído. A partir da metade do livro, o ritmo se intensifica e muitas das perguntas levantadas começam a ser respondidas. É gratificante ver uma estrutura com início, meio e fim bem delimitados, além de um mistério resolvido de maneira peculiar, exigindo do leitor uma reflexão mais ampla sobre o contexto e a ambientação. Prepare-se para manter o nível de tensão elevado até o epílogo.

Os ares sombrios que permeiam a narrativa são essenciais para a construção do enredo. A discussão sobre vida e morte, a criação de um ser humano a partir de cadáveres e o pano de fundo do cenário vitoriano do início do século XIX contribuem para uma atmosfera densa e inquietante. Era exatamente esse tipo de abordagem que se esperava desse universo, e confesso que gostei bastante da forma como a autora lidou com esses elementos, evidenciando novamente sua habilidade narrativa.




De forma geral, a leitura é altamente recomendada. Foi uma experiência envolvente, marcada por suspense, descobertas e reflexões — tudo isso dialogando muito bem com o clássico ao qual a obra se associa. Espere mistério, tensão e aquele tom reflexivo característico de Frankenstein, aqui explorado sob uma nova e interessante perspectiva.

Na parte física, a Plataforma 21 inovou e acertou em cheio. A capa e a lombada fazem alusão à anatomia e à ciência por trás da criação do “monstro”, com detalhes que remetem à costura e à colagem, funcionando como um verdadeiro chamariz. O título em alto-relevo e a arte escolhida são belíssimos. A diagramação interna também merece elogios, repleta de pequenos detalhes que enriquecem a experiência de leitura. Não encontrei erros de revisão ou ortográficos. A narrativa é conduzida em primeira pessoa, pelo ponto de vista de Elizabeth.

“Eu amava Justine. Assim como amava Henry. Mas não amava ninguém como amava Victor, porque devia tudo a ele.”

Estou, sem dúvidas, me tornando cada vez mais fã da autora. É impossível terminar o livro da mesma forma que se começou. Elizabeth nos conduz por um caminho tortuoso, onde amor e obsessão se confundem, e onde monstros nem sempre são feitos de retalhos e costuras. Ao fechar o livro, fica a sensação de desconforto — aquele bom desconforto que só histórias bem construídas conseguem provocar — e a certeza de que essa releitura faz jus ao legado de Mary Shelley, ao mesmo tempo em que cria algo novo, perturbador e memorável. E agora quero saber de vocês: já conheciam A Sombria Queda de Elizabeth Frankenstein? Já leram ou ficaram curiosos? Me contem nos comentários!
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Ana Caroline

Olá, tudo bem? Prazer, me chamo Carol (na realidade Ana Caroline, mas ficamos com Carol!), sou formada em Nutrição pela UNIRIO e tenho 28 anos. Gosto de compartilhar com o mundo um pouco do que eu me apaixonei no universo literário, que é um vício criado na adolescência (culpado Crepúsculo!). Fã de fantasia e de romances (desde os dark até romance de época) e um pouco de suspense, o Leituras Diárias é um lugar onde mostro essa minha paixão pelos livros. Sejam bem-vindos!

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