Autora: Colleen Hoover
Editora: Galera Record
Páginas: 380
Gênero: New Adult / Romance
Nota: ⭐⭐⭐⭐❤️
Para proteger o irmão, Sloan foi ao inferno e fez dele seu lar. Ela está presa em um relacionamento com Asa Jackson, um perigoso traficante, e quanto mais os dias passam, mais parece impossível enxergar uma saída. Imersa em uma casa incontrolável que mais parece um quartel general, rodeada por homens que ela teme e sem um minuto de silêncio, também parece impossível encontrar qualquer motivo para se sentir bem. Até Carter surgir em sua vida. Sloan é a melhor coisa que já aconteceu a Asa. E se você perguntasse ao rapaz, ele diria que também é a melhor coisa que já aconteceu a Sloan. Apesar de a garota não aprovar seu arriscado estilo de vida, Asa faz o que é preciso para permanecer sempre um passo a frente em seu negócio e proteger sua garota. Até Carter surgir em sua vida. A chegada de Carter pode afetar o frágil equilíbrio que Sloan lutou tanto para conquistar, mas também pode significar sua única saída de uma situação que está ficando insustentável. Colleen Hoover não tem medo de escrever sobre assuntos delicados e Tarde demais prova isso. Perpassando as formas mais cotidianas de machismo até as formas mais intensas e cruéis de abuso, a autora mergulha na espiral atordoante que é um relacionamento abusivo.
*Essa história possui MUITOS gatilhos. Se você já passou ou tem trauma ou reações adversas com cenas de estupro, violência, relacionamento abusivo, PARE aqui. Essa resenha não é para você*
Quando você pensa que não existe mais maneiras da autora arrancar seu coração, Colleen Hoover — inicialmente o pseudônimo de C. Hoover no Wattpad — te destroça. Confesso que demorei quase um ano desde o lançamento do enredo na plataforma, para tomar coragem para ler. Hoje, entendo o porquê. Além de fortes emoções, você tem que ter estômago forte. Principalmente nós, mulheres.
Sloan é uma menina que sofreu desde criança. Filha de mãe ausente e drogada, ela ficou sem opções de escolhas na vida quando conheceu Asa. Ele é um bandido que revende drogas e se acha dono da nossa protagonista. Com a única coisa que Sloan não é capaz de fazer, e a que mantêm presa a ele, Asa paga os tratamentos do irmão dela — ele precisa de tratamento médico constante, que é uma fortuna por mês quando não subsidiado pelo governo. Stephen é a única pessoa na vida que Sloan se importa e faria qualquer coisa sem pensar. Com isso, ela é infeliz, vivendo uma vida que não quer, com situações absurdas acontecendo e que só irão acabar, com a chegada de um homem diferente.
Carter é um policial que infiltrado no grupo de vendas do Asa. Querendo desmascarar ele e o tráfico de drogas, se disfarçará e entrará nessa situação ferrada. O que ele não esperava na missão, é que uma garota despertasse seu interesse e pudesse colocar tudo a perder, afinal ela é Sloan, namorada do chefe da quadrilha.
Eu passei por tantas, tantas emoções — desde as mais ruins até as de alívio — na narrativa, que é difícil de explicar. Como disse no aviso de cima, essa história traz muito de uma realidade complicada e uma crueza tão grande, que te choca em primeira instância. E não para menos, afinal, já em um dos primeiros capítulos temos cenas de estupro, e sim, plural. E quando você pensa que não pode piorar: infelizmente, piora. Asa é violento, possessivo, inconstante e abusivo de tal forma, que te enoja a ponto de chorarmos sem perceber — aconteceu comigo diversas vezes, inclusive motivada pela raiva.
"Por que cada vez que damos um passo à frente, somos obrigados a dar dez passos para trás?"
É uma escrita tão parecida, mas ao mesmo tempo tão destoante do que conhecemos da autora, que você em um primeiro momento fica confuso — vemos uma nova interface da CoHo para fazer os leitores sofrerem. Tratar desses assuntos — mais decorrentes do que pensamos e mais presente do que imaginamos — te faz abrir os olhos para o quanto a gente romantiza algumas coisas que NÃO são românticas. Todo o desenvolvimento passa longe de ser uma mera construção de romance, de ser apenas a história de mais um casal encontrando o amor. Apesar de ser "fictício", ao meu ver Tarde Demais não veio com essa missão e limitação. É tantas situações exemplificadas e detalhadas, que ficamos sem reação e não paramos de ler até o fim. Traz uma sensação e necessidade de vermos uma punição justa acontecendo, onde até a vingança chega a ser satisfatória.
Também não preciso nem dizer o quanto esses personagens marcam, tanto para o bem quanto para o mal. Assim como a nossa personagem principal, vemos Carter como um "salvador", e vou confessar que ele se resume a isso. Sloan nos transpassa ser uma pessoa forte por tentar superar tudo que passou — e para mim é o ponto essencial da narrativa — porém, acho que ela perde as estribeiras no epílogo, onde temos uma situação provocada por ela que não concordo — analisando dentro do contexto, chega a ser "aceitável" essa atitude, contudo não é algo que apoio. É uma cena idealizada por ela, e que quando surge a oportunidade, realiza. (leia e descubra do que eu estou falando, depois venha aqui discutir por favor!).
E não preciso comentar o quanto tenho asco por um ser, pois não dá para chamar Asa de pessoa, desculpem aos defensores — que é opinião quase unânime, ainda bem. Agradeço que apesar de encontrarmos motivos dele se comportar do modo que faz, em nenhum instante isso justificará as atrocidades que cometeu. E apesar de uma minoria de leitores, como sempre, querer vitimizá-lo, ele NUNCA será a vítima ou inocente. NADA justificará! Passado, família, doença não são argumentos para ter o caráter que ele tem. Bato palmas que durante todo o enredo a escrita deixa claro esse entorno e limitações, até onde eu compreendi.
Asa com certeza foi o mais trabalhado e lapidado em características, em ser construído e explicado. É nítido que o contexto é envolta dele, apesar de muitos acharem que o enfoque na realidade é na Sloan. Eu não senti isso pois a complexidade está em Asa e sua mente perturbada. Creio eu que ele é o que move a trama, por isso considero sendo o rosto principal de Tarde Demais. Além disso, apesar dos elogios que dei aos outros dois personagens, faltou algo à eles que me fizessem ter mais empatia. Alguns erros, acontecimentos não explicados deixam lacunas nas personalidades e escolhas deles, não me cativando tanto quanto pensei.
"Eu não tento convencê-la com mais palavras. Eu não a alimento com desculpas tardias. Eu apenas a abraço, porque não consigo suporta saber o que ela está sentido."
Apesar do tema pesado a ser desenvolvido, encontraremos todas as qualidades possíveis de escrita. Inicialmente li a versão traduzida autorizada pela autora, publicada numa plataforma digital, então tinha alguns erros de concordância e/ou português que incomodaram, mas no geral não atrapalhou o entendimento da leitura. Temos essencialmente Colleen Hoover de qualquer maneira. Quando soube que o livro foi escrito em um tempo de "bloqueio" dela, quase surtei pois imagine ela em um ótimo momento?! Recomendo muitíssimo a leitura. A obra é narrada pelo ponto de vista dos três protagonistas, o que nos deixa a par da cabeça de cada um.
Na parte física, tenho minhas ressalvas quanto a capa escolhida pela editora. Não achei tão bonita quanto a internacional, que é lindíssima, e confesso que só comprei para ter todas os volumes da CoHo em físico. A diagramação é espaçada e limpa, e não posso opinar inicialmente sobre revisão ou erros ortográficos — quem sabe numa releitura.
A resenha está enorme — maior do que eu imaginava — todavia as minhas palavras não caberiam em uma resenha "padrão" do blog. Espero que tenham lido e entendido um pouco do que queria passar. Eu acho que como fã da autora, não poderia deixar de ler esse exemplar. Já falei para lerem? rs
"Eu não tento convencê-la com mais palavras. Eu não a alimento com desculpas tardias. Eu apenas a abraço, porque não consigo suporta saber o que ela está sentido."
E vocês, leriam ou leram Tarde Demais? Conhecem a Colleen Hoover? Deixa nos comentários!