Autora: Colleen Hoover
Editora: Galera Record
Páginas: 336
Gênero: Romance / Contemporâneo / Jovem Adulto
Nota: ⭐⭐⭐⭐⭐💗
Para Merit Voss, a cerca branca ao redor da sua casa é a única coisa normal quando o assunto é sua família, peculiar e cheia de segredos. Eles moram em uma antiga igreja, batizada de Dólar Voss. A mãe, curada de um câncer, mora no porão, e o pai e o restante da família, no andar de cima. Isso inclui sua nova esposa, a ex-enfermeira da ex-mulher, o pequeno Moby, fruto desse relacionamento, o irmão mais velho, Utah, e a gêmea idêntica de Merit, Honor. E, como se a casa não tivesse cheia o bastante, ainda chegam o excêntrico Luck e o misterioso Sagan. Mas Merit sente que é o oposto de todos ali. Além de colecionar troféus que não ganhou, Merit também coleciona segredos que sua família insiste em manter. E começa a acreditar que não seria uma grande perda se um dia ela desaparecesse. Mas, antes disso, a garota decide que é hora de revelar todas as verdades e obrigá-los a enfim encarar o que aconteceu. Mas seu plano não sai como o esperado e ela deve decidir se pode dar uma segunda chance não apenas à sua família, mas também a si mesma. As mil partes do meu coração mostra que nunca é tarde para perdoar e que não existe família perfeita, por mais branca que seja a cerca.
Acho que não existe palavras suficientes para descrever o quanto realmente gosto das histórias da Colleen Hoover. Definitivamente é uma das minhas autoras favoritas de romance, e As Mil Partes do Meu Coração entra como favoritado ao lado de Um Caso Perdido.
Merit Voss vive numa família totalmente inusitada. Ela possui 3 irmãos: um mais velho, Utah, uma irmã gêmea, Honor e um irmão mais novo, Moby. Mora numa casa que antes era uma igreja — e por isso o local ainda possui uma imagem gigante de Jesus na sala, o qual ela fantasia quando possível — onde no andar de cima mora junto do pai, da madrasta e dos irmãos, enquanto que no porão a mãe vive. Para piorar, Sagan — um menino pelo qual sente uma atração que trará problemas futuros — e um homem chamado Luck também passarão a viver neste caos.
Merit sente-se diferente de todos que estão a sua volta, é infeliz com o modo que lida com a própria vida, e passa a pensar cada vez mais que tornou-se invisível. Num impulso toma uma decisão que a mudará drasticamente, e neste meio, resolve escrever todos os segredos da sua família que guarda para si em uma carta, fazendo-os encarar as suas atitudes. Sua impulsividade tem uma consequência irreversível tanto para ela quanto para os Voss.
Os livros da CoHo são leituras que não preciso me aprofundar muito nas sinopses e premissas, pois a chance de não ler é quase nula. Por isso, as temáticas de As Mil Partes do Meu Coração me pegaram um pouco de surpresa. Problemas atuais sendo retratados pelo ponto de vista de quem sofre é realmente desafiador e um tapa na cara — principalmente quando existe pessoas que questionam se é doença ou não. O enredo foi de uma intensidade que quem capta nas entrelinhas, percebe o peso que cada momento "errado" pode eclodir em uma pessoa que passa por problemas psicológicos. Não quero citar quais são, por óbvio que seja, visto que uma das cenas que mais me tocou foi quando nossa protagonista percebe que ela possui e precisa de ajuda.
"Estou cansada de dizer coisas que ninguém se importa. Vou parar de falar e, assim, quando abrir a boca, minhas palavras terão peso. Agora, parece que sempre que falo, minhas palavras dão a volta e retornam para minha boca como um bumerangue, e sou obrigada a engolir o que disse." pág. 57
Falando um pouco da personagem principal, a minha identificação com a Merit foi imediata. Logo de cara pode ser difícil entendermos seus pensamentos e ações, no entanto me colocando em seu lugar pensei que provavelmente tomaria atitudes parecidas. Aliado ao fato de que é difícil não se apaixonar pelo Sagan quando todos os mal entendidos são resolvidos, a dupla principal fica em alta com os leitores. Em relação aos que estão em segundo plano, confesso, que foram difíceis de simpatizar — núcleos familiares sempre tem um para desgostar, rs. Ainda assim, a medida que conseguimos analisar melhor suas atitudes, e temos as respostas para as escolhas duvidosas, é fácil de suportar.
O que para mim é o maior mérito de escrita, é o fato de termos um grupo composto por pessoas que precisam pensar e medir suas decisões. Todos possuem questões internas a serem resolvidas, e que quando expostas, tentaram solucionar. Acho que é um tópico muito entrelaçado com a nossa realidade porque distúrbios psicológicos muitas vezes envolvem e englobam pessoas que vivem próximas. O ato de todos estenderem a mão e internalizar que conjuntamente possuem um pouco de culpa na explosão da protagonista me arrancou lágrimas. Além disso, o conhecido tópico casais arrebatadores da autora existe, entretanto, perde um pouco de espaço com a importância das informações inseridas. Soube efetivamente quando crescê-lo e quando regressá-lo.
E após o ápice dramático, a história deslanchou de um modo que adorei. Achei acertada os caminhos escolhidos, e cada personagem teve um "fim" satisfatório, me fazendo terminá-lo sorrindo e chorando. Característico das obras da autora, primeiramente somos apresentados a uma construção lenta, trabalhada de modo a nos omitir peças fundamentais que posteriormente serão explicadas. Aqui, talvez esse recurso possa ser um empecilho inicial — eu mesma demorei a engrenar de vez — contudo reforço que depois de absorver sua importância, as páginas e a escrita caem numa fluidez rápida.
Outro elemento que acho importante falar, é o assunto sobre as guerras territoriais atuais que ganha um chamariz pontual no passado de um dos personagens. Meu nível de conhecimento era do que via em noticiários — e cheguei a ter informações abordadas superficialmente em aulas de História — porém achei válido ter ressaltado os sentimentos das pessoas que vivem esse tormento.
"— Fico irritado quando as pessoas tentam convencer os outros de que sua raiva ou estresse não se justifica se outra pessoa no mundo está em pior situação do que eles. É papo furado. Suas emoções e reações são legítimas, Merit. Não deixe que ninguém lhe diga outra coisa. Você é a única que as sente." pág. 315
Vejo uma vertente artística cada vez mais presente. Adentrando no ambiente das artes, ela já trabalhou com música, pintura, poemas e poesias entre outros modos de expressão artística, e agora temos a do desenho. No final do volume temos algumas das representações citadas ao longo das páginas, e me maravilhei com esse extra. Foi um adicional que veio para melhorá-lo e tornar mais real a experiência da leitura — e que agora admito não saber qual outro ela escolherá, afinal, as opções estão ficando escassas rs.
De uma forma geral, é uma obra impecável que sabemos que a Colleen Hoover é capaz de fazer. Houve um longo tempo que não me conectava tão profundamente com seus exemplares — não me tiravam da zona de conforto — o que acabou tornando As Mil Partes do Meu Coração especial. Recomendo, uma vez que os dramas dela se correlacionam muito com o nosso contemporâneo e dia-a-dia. Venham para o universo CoHo!
Na parte física, manter a capa original foi a opção acertada, e particularmente acho linda e dentro do contexto da parte interna. Tenho minhas ressalvas quanto a tradução do título, só que mantê-lo no inglês seria difícil — que é Without Merit, e possui uma ambiguidade bem interessante. A diagramação é a padrão da editora. Me perdoe em relação a não recordar se vi erro ortográfico ou de revisão, todavia acredito que não. A narrativa é feita em primeira pessoa pelo ponto de vista da Merit.
Sinto que eu realmente estava precisando de uma história que mexesse comigo tanto quanto Um Caso Perdido, que tem anos que foi lançado. Me balançou, me fez ter sentimentos conflitantes e refletir bastante. Estou com gás renovado para ler seus sucessores. Espero que tenham gostado!
E vocês, conheciam As Mil Partes do Meu Coração? Já leram? Tem curiosidade? Deixa nos comentários!